Um grande
místico estava morrendo. Ele chamou seu principal discípulo. O discípulo ficou
muito feliz ao ver que seu mestre o chamava, pois ele havia sido escolhido
entre uma multidão de pessoas. Provavelmente o mestre iria transmitir algum
grande segredo que não havia contado para ninguém até agora. “Esta é a forma
pela qual ele está me escolhendo como seu sucessor!”, pensou o discípulo,
enquanto se aproximava.
O místico
disse: “Tenho apenas uma coisa a lhe dizer. Eu não fui capaz de ouvir meu mestre,
que me disse esta mesma coisa ao morrer. Eu era tolo e não ouvi, nem mesmo pude
entender o que ele queria dizer. Mas estou lhe falando, com toda minha
experiência, que ele está certo, apesar de eu ter achado absurdo quando ele me
contou.”
O
discípulo perguntou: “O que é? Por favor, me conte! Tentarei seguir cada uma de
suas palavras”.
O mestre
então disse: “É algo muito simples: nunca, em momento algum de sua vida, tenha
um gato em sua casa!” E antes que o discípulo pudesse perguntar por que, o
mestre morreu!
Agora ele
se sentia desorientado — que frase idiota! E a quem ele iria perguntar o que aquilo
queria dizer? Foi procurar as pessoas mais velhas do vilarejo. “Há algum
sentido nessa mensagem? Deve haver algum sentido misterioso oculto aqui!” Um
dos anciãos falou: “Sim, eu sei por que o mestre de seu mestre disse o mesmo para
ele: ‘Nunca, jamais, tenha um gato em sua casa’. Mas ele não ouviu. Eu sei toda
a história”.
O
discípulo pediu que o ancião lhe contasse tudo para que ele pudesse entender o significado
do que o mestre lhe dissera. O ancião
riu. Disse: “É algo muito simples, não há nada de absurdo aí. O mestre de seu
mestre deixou para ele uma grande mensagem, mas seu mestre nunca se perguntou: ‘Qual
o sentido disso?’ Ao menos você foi inteligente o bastante para indagar a
respeito.
Seu mestre
era jovem quando essa mensagem lhe foi transmitida. Ele costumava viver na floresta
e possuía apenas duas roupas, nada mais. E o pior é que freqüentemente suas roupas
eram destruídas pelos ratos que entravam em sua casa, e ele era obrigado a
pedir novas peças às pessoas do vilarejo.
Um dia, um
habitante do vilarejo disse: ‘Por que você não tem um gato? Se você tiver um
gato, ele comerá os ratos e não haverá problemas. Do contrário, como nós, que
somos pessoas pobres, faremos para lhe dar roupas novas todos os meses?’ Parecia
bastante lógico, então ele pediu que alguém lhe desse um gato. Levou o gato para
casa, mas aí começaram os problemas. O gato obviamente salvou as roupas, mas o gato
precisava de leite, porque depois que ele comeu os ratos não havia mais o que
comer.
E o pobre
homem não podia meditar, porque o gato estava sempre miando e gemendo e dando
voltas a seu redor.Ele
retornou ao vilarejo e falou com algumas pessoas, que lhe disseram: ‘Esta é uma
situação difícil. Agora teremos que lhe fornecer leite diariamente. Em vez disso,
podemos lhe dar uma vaca. Assim a situação estará resolvida, você fica com a
vaca. Você pode beber o leite e seu gato também. Assim você também não
precisará mais nos pedir comida diariamente.
A idéia
parecia ótima. Ele levou a vaca… e o mundo começou. É assim que o mundo começa.
A vaca precisa de grama, e as pessoas disseram: ‘No próximo feriado, nós limparemos
uma área na floresta e prepararemos a terra. Você irá plantar um pouco de trigo
e algumas outras coisas, e deixará uma parte para a grama.’ E os habitantes do
vilarejo fizeram o que haviam prometido: limparam a floresta, araram o solo,
plantaram trigo. Mas agora havia outro problema: era necessário irrigar a terra,
cuidar da plantação. E o pobre homem gastava todo o seu dia com isso. Não havia
mais tempo para ler as escrituras, nem para meditar.
Mais uma
vez ele retornou ao vilarejo e disse: ‘Meus problemas só estão piorando! Agora o
problema é que não há mais tempo para meditar!’
Eles
responderam: ‘Espere um pouco. Uma mulher acaba de ficar viúva, ela é jovem e
temos medo que ela seja uma tentação para os jovens de nosso vilarejo. Por
favor, leve-a com você. Ela é saudável, pode tomar conta de sua terra, dá vaca,
do gato, e irá preparar sua comida. Ela também é muito religiosa. E não se
preocupe, ela não irá perturbá-lo.”
Assim as
coisas se encaminharam para sua conclusão lógica. Veja o quanto o homem já
havia se afastado de seu caminho desde que recebera o gato...
A mulher
foi morar com ele e cuidar dele. Durante alguns dias, ele se sentiu muito feliz. Ela
massageava seus pés e... aos poucos o que tinha que acontecer aconteceu: eles
se casaram. E quando você se casa, na índia, tem ao menos uns doze filhos. No
mínimo! Então toda a meditação se foi.
Ele se
lembrou disso apenas quando estava morrendo. Lembrou-se outra vez que, quando seu
mestre estava morrendo, havia dito a ele para tomar cuidado com os gatos. Foi por
isso que ele lhe disse isso. “Agora é sua vez de tomar cuidado com os gatos.
Basta um pequeno passo na direção errada e você estará seguindo o caminho
errado.
Osho.
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